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"Cada passeio cruza o espaço como a linha atravessa o tecido, costurando-o numa experiência contínua..."

                                                                                                                                       Rebecca Solnit

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Me permiti refazer um mesmo caminho por diversos dias ao longo de dois anos, Esses deslocamentos diários, me trouxeram uma percepção maior sobre a paisagem  que me cercava e os objetos que passei a identificar durante esse percurso. Esse caminhar me proporcionou encontros, saudações de conhecidos e conversas. Me trouxe inquietações e ao final uma reflexão sobre uma possível ação sobre  esses achados. Durante esses trajetos, percebi que muitos carros permaneciam no mesmo local. Eles chegavam sem chamar a atenção , ocupavam uma vaga e ficavam por meses, alguns até anos, tornando-se parte da paisagem. Serviram a seus donos mas agora, foram relegados a sua própria sorte, para serem mutilados, pichados, usados como referência e menosprezados pela vizinhança, pois incomodam, criam ruídos na paisagem, são monumentos da modernidade que tudo descarta. Mapeei e documentei todos os carros que encontrei no perímetro que estabeleci para as minhas caminhadas, Tive muitas conversas com pessoas que encontrava, sobre cada um dos carros. Me dei conta ao final, que eu poderia ser uma agente de mudança daquela situação, mas depois percebi que não bastava resolver o problema ao meu redor: retirar o carro dali era transferir o problema para a vizinhança que eu não via, mas que com certeza seria bem mais incomodada.

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(2017)